Gosto de ferro.


Gosto de ferro na boca, maquiagem borrada, pingos de sangue na lajota branca e fria, mais uma sexta-feira que pensei ser sábado, um frio de arrepiar pêlos, tremer úteros... umas lágrimas de mulher usada. Não consigo parar de me culpar por colocar o que quero em voga sempre e respirar pálido em frequência ríspida. Quando foste embora, vi nas nossas fotos que tudo era plástico, botox e photoshop eram brincadeira de criança perto dos nossos beijos amor, ah não, não era eu que fingia, não era eu que gemia, que me contorcia, apenas me fechava de tristeza, os pés gelados, cama vazia, não conseguia levantar pra mudar a faixa do cd e tu lá, preocupado em ir embora, em se lavar, me deixar. 

Nuvem pós nuvem passando e há uma beleza agregada nas pessoas que vejo, por um minuto penso menos em tudo que costumo manter fiel o pensar, os materiais dos quais são feitas as janelas, os copos, os lenços, os esmaltes, as geladeiras, quinquilharias que guardamos, nos expomos a essa vida frágil de coisas, evoluimos do nu sangrento ao vestidos com sangramentos internos. A vida vai correndo, fazendo barulho digital, com cor de fibra, cheiro de manhã chuvosa. Há um momento no amor que é feito de chás. Choramos juntos pelo sol que chega e só olha pras flores que gozam a água da chuva de ontem.

Fechava os olhos na esperança infantil da contagem até dez, na espera de que tudo ficasse bem, mas era só abrir os olhos que a inércia voltava e mecânico me invadias e eu queria que tu morresses, mas queria também que vivesses em mim mais uma vez, só hoje quem sabe.

1 comentários:

Luana Coelho disse...

Perfeito

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