No saculejar do ônibus.

Você é quem você é quando ninguém te olha

Ajudar, fico sempre na dúvida quando devo ajudar. Na dúvida escrota de sempre, prefiro tirar as moedinhas do bolso e dar para quem pede. É claro que muitos vão me repreender e dizer que estou alimentando o assistencialismo e viciando essas pessoas nos seus 'empregos' de pedintes, mas não contribuir, quando se pode, é virar o monstrinho do ônibus, da calçada, é ser julgado não só pelos olhos dos transeuntes, por você mesmo, mas também pela sujeira, pela falta de um membro ou pela fedentina do morador de rua. 

Aquela sujeira, que virou sinal na dobra das articulações, me diz o quanto tenho tanto e que o pouco que tenho no bolso, no final das contas, não me fará falta. 

Minha vontade não é ser a professorinha solidária que ensina as crianças que os mendigos são bonzinhos, precisam de ajuda e de um prato de comida. 

Tudo bem, existe muita gente drogada que acaba nas ruas, marginal de suas próprias escolhas, mas nem todo mundo chega na rua porque se droga, mas se droga porque está na rua, para aguentar o estômago que ronca, que remoi a si próprio, que acha que a saliva é comida e se frustra. 

Daí, passamos 4 ou 5 horas sem comer e já temos dor de cabeça, o cerébro então, parece que dá pane, don't panic! Você caro leitor matará a fome assim que chegar em casa, porque você assim que nem esta blogueira, tem um lar, tem um lugar pra chamar de seu, mesmo que ele seja minuscúlo, alugado e tenha pedaços de pizza debaixo da cama. Você não precisa se lavar em torneiras das praças, você escova os dentes.

Então vejo sempre a mesma cena, alguém sobe pra pedir dinheiro e as pessoas conversam baixinho: "isso é pra beber", "esse daí não trabalha porque não quer", "gente aleijada também pode trabalhar". 

Quanto clichê. 

O problema é que as pessoas não conseguem pensar além, não conseguem pensar que simplesmente aquela história contada aos berros e no saculejar do ônibus pode ser verdade e que realmente pode existir uma familia a espera do pai que não arranja emprego porque foi presidiário e é descriminado por um sistema que pune e ainda não aprendeu a re-incluir e acreditar no homem. 

Então, é como sempre digo: não me importa se essa pessoa tá mentindo, eu fiz a minha parte, e se for verdade e eu não tiver ajudado? Pelo menos hoje, pelo menos enquanto o Estado não muda, não acorda, eu fiz e disse um clichê menos imundo e menos burguês.
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Labutacion.


Dentre as vozes da cidade, do ritmo frenético que as pernas insitem em ter surge de um tudo. E dá-lhe motores, vrums/brums loucos e irritantes, que se confundem com o suor da caminhada matinal de quem acorda cedo para o bem estar e não mais pelo dinheiro com o suor de quem quer construir patrimônio ou comprar geladeira. 

Os bichinhos da labuta embarcam no coletivo, outros ficam putos da vida porque perderam a condução e os ponteiros giram sem PARAR, existe o ponto para bater, as obrigações que não esperam e os problemas que não se resolvem sozinhos. 

Os factoides vão inundando as avenidas, os meninos sem base de rosto ou protetor solar gritam o preço, vendem nóticia quentinha e água gelada. Trim, troc e trilim, as moedinhas que sobraram do ontem vão de mão em mão. ALÔ de celular e ALÔ de 'alô senhores passageiros, PICOLÉÉÉ!'. 

Tem de todos os sabores, parada SOLICITADA , os pés rápidos chegam no destino, dão bom dia e bom dia, cafézinho rápido cortando a garganta, o que se tem pra fazer? Labutar.
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Não é o que você é, é o que você usa que define você.

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