Mentirosa.



Lentamente lambeu a palma da mão, fiquei imaginando se a saliva dela tinha o mesmo sabor de seu gozo ou se eu poderia misturar os dois fluidos e assim criar uma bebida nova, que pudesse me manter chapado por horas. Um coquetel exclusivo, cuja a peleja do preparo foi enorme até a vitória.

Algum carro poderia passar, algum pedestre desavisado da nossa loucura podia nos pegar, mas no fundo queria ser apanhado, julgado, observado. A luz do poste piscava e deixava os seios dela amarelos, eram duas laranjas carnudas, que imploravam pra que eu fosse o herói da noite, sugando-as sem parar.  

Ah meu amigo, aquela mulher era minha, sem ajuda do Miles ou do Sinatra, eles eram amadores perto de mim. Eu só pensava no prazer que sentia em comer aquele prato delicioso sem precisar de preliminares, de promessas. Éramos animais, aquilo era o inferno e meus músculos queimavam. Minha glande conversava com o corpo daquela fêmea, que de silêncio em silêncio me arranhava e me queria, falávamos a língua dos tarados (risos). 

O perigo aumentava e aquele coito era como se eu estivesse vendo meu time chegar às quartas de final e só queria gritar: pega caralho, toma-lhe filha da puta! É gol!
Mas a pele dela era tão suave e seus gemidos tão macios, que batiam na cartilagem dos meus ouvidos e me anestesiavam por inteiro.







Ela sempre foi daquele tipo que mente, uma mitomaniaca desgraçada, que dizia que era virgem, que queria se guardar, que Deus não aprovaria e blá blá blá.  
Eu sempre encurralando a pequena. 
Escorregando a mão pela saia dela, querendo meter meu dedo nos orifícios que o pai e a mãe dela passaram talco. 
Conseguia uma sequência.
Uma sequência cretina de nãos. 
Porém minha persistência era do tamanho do meu desejo.

Aquele momento perfeito que ela te olha e sabe que você finalmente está dentro dela, ela puxa seu pescoço e abre a boca como se fosse falar as vogais. Não consigo não achar maravilhoso sentir que o corpo dela treme, que acompanha a dança que eu inventei o ritmo.
Consegui, levei-a ao ponto máximo, dei a ela o que ela nasceu querendo.  

Abotoando minha calça pensei sobre o que tinhamos feito, sinceramente não me vinha nada de profundo, só que queria mais, afinal de contas, uma dose pra mim nunca é o bastante.
Nos olhamos, rimos, ela me queria também, sempre quis. Mentirosa, cretina e perfeita.
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Gosto de ferro.


Gosto de ferro na boca, maquiagem borrada, pingos de sangue na lajota branca e fria, mais uma sexta-feira que pensei ser sábado, um frio de arrepiar pêlos, tremer úteros... umas lágrimas de mulher usada. Não consigo parar de me culpar por colocar o que quero em voga sempre e respirar pálido em frequência ríspida. Quando foste embora, vi nas nossas fotos que tudo era plástico, botox e photoshop eram brincadeira de criança perto dos nossos beijos amor, ah não, não era eu que fingia, não era eu que gemia, que me contorcia, apenas me fechava de tristeza, os pés gelados, cama vazia, não conseguia levantar pra mudar a faixa do cd e tu lá, preocupado em ir embora, em se lavar, me deixar. 

Nuvem pós nuvem passando e há uma beleza agregada nas pessoas que vejo, por um minuto penso menos em tudo que costumo manter fiel o pensar, os materiais dos quais são feitas as janelas, os copos, os lenços, os esmaltes, as geladeiras, quinquilharias que guardamos, nos expomos a essa vida frágil de coisas, evoluimos do nu sangrento ao vestidos com sangramentos internos. A vida vai correndo, fazendo barulho digital, com cor de fibra, cheiro de manhã chuvosa. Há um momento no amor que é feito de chás. Choramos juntos pelo sol que chega e só olha pras flores que gozam a água da chuva de ontem.

Fechava os olhos na esperança infantil da contagem até dez, na espera de que tudo ficasse bem, mas era só abrir os olhos que a inércia voltava e mecânico me invadias e eu queria que tu morresses, mas queria também que vivesses em mim mais uma vez, só hoje quem sabe.
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Teu preço



Não brinca comigo, se não consegues chegar até o final. Sei que os clipes que gravas não são inocentes, precisas que eu te ensine uma lição, que mostre minha arma para que percas o controle.
Sei que sais com qualquer um e te deslizas entre para-choques diferentes, é a lindinha da familia, mas por trás é o óbvio ululante da vadiagem. Quis te pagar uma bebida e sorriste, com um olhar de quem quer ser minha deu o primeiro gole, te acompanhei e senti o álcool descer da minha garganta e morrer na minha glande, imaginei cubos de gelo derrapando na estrada do teu corpo. As luzes verdes e vermelhas da festa adentravam teus olhos e eles buscavam a minha boca. 
Sem dizer uma palavra me beijaste, transferindo cerveja da tua pra minha boca, não, tu não tens nada de inocente, sua sombra negra me matava de prazer, antes mesmo que te tocasse.

Não há nele nada que eu queira, preciso de um corpo pra me afogar, sentir que meu vazio pode ser preenchido com um pouco de sujeira, tesão e conquista. Ele dança como um pato, e antes de me tocar já tem uma puta cara de satisfeito.

Eu tinha certeza que ela me queria, a cara dela dizia "vem cá, me doutrina",mas havia uma espécie de abismo alucinado entre nós. Ali no meio daquela gente ela me teve, talvez as pessoas olhassem nosso flerte, e participassem dos nossos gemidos, mas nada importava, era irreal na proporção que era maravilhoso. Quando acabou ela sussurrou: não é isso que eu quero, tive melhores. Colocou cinquenta reais no meu bolso de trás e foi embora sem olhar o prato que tinha comido. Não, ela não é inocente e eu sou apenas um michê que se deixou levar. Preciso de mais um programa e um drink pra conseguir.
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Checando o vinho.



Enquanto as horas passam, terrivelmente imagino como foi seu dia, o que tens feito, se sente saudade do meu rosto recebendo prazer. As minhas preocupações foram dar uma volta pelo quarteirão, meus pés roçam e finjo dormir para que cheires meu pescoço e me acordes mais uma vez. 


Um show de pássaros perdendo suas penas, uma a uma, se debatendo, mil rosas bebendo vinho das nossas bocas. 


Sua pele terrivelmente pula em cima da minha, e meu amor, continue fixando seu olhar no meu, não para agora, por favor, não para.
Sua mão que me dá segurança, seus dedos que deslizam na minha alma e desembocam no meu tronco, sou planta forte, regada com sacanagem, poesia, música, maratona de línguas, puxões, abraços e amor.


Aqui está você, na minha frente, chequei meu coração, gosto do que sinto, chequei o tempo, vem chuva por aí, chequei os discos, tem trilha sonora, chequei meu desejo, ele diz que quer que você fique e me revire. 


As imagens do beijo, seguido de risadas, seguidas de felicidade, começam e terminam infinitamente em nós, pintados de vinho, fumaça e poros. Terrivelmente, me coma, me morda, terrivelmente me ame.
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Nada na cabeça.




Vou esperar todos colocarem suas roupas, não parece tão sujo aqui, e tudo que as vozes da rua mentirem, peço que mintam bem, pois estamos cansados de ver fotos de porres e estamos realmente de saco e de copo meio cheio dessa inocência forjada. 

Um velho que te oferece vinho e quer pegar na sua perna, uma menina que faz fotos de calcinha e se expõe na internet, nossos olhos estão cheios da sujeira dessas pessoas, estamos cheios.

Eles mudaram seus amigos, a cor da cozinha e do seu batom, da sua cueca, são eles que decidem! 

E garota, você é de plástico e repete os mesmos gemidos dos videos de sacanagem que escondida vê e na frente dos outros.. diz ter nojo. 

Fixe seus olhos nos meus e diga que não está sozinha, a solidão é uma brincadeira que pode fuder com sua mente e com a minha também, já bebi muito das suas mentiras, estou chapado e você deu um gole que saiu pelo seu nariz, bem feito. 
Ache seu caminho de plástico e deixe sua calcinha de fio aparecer quando sentar para conseguir seu primeiro emprego, combina com você. 

Não consigo respirar o mesmo ar que ela, a casa está pequena demais, quero que ela se vista e suma. Va-ga-bun-di-nha, meus amigos falam, mas estou doente por essa imunda e só o que vejo é fotograma e fotograma dela, na minha cama, pedindo mais. 

Ela que só vê tv, que só compra revistas de fofoca e espoca bola de chiclete com o dedo mindinho. Ela não tem nada na cabeça, eu a quero, pelo jeito não tenho nada na minha também.
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